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Mais de R$ 4 bilhões em benefícios foram pagos para mortos; Paraíba concentra 12% dos registros

Auditoria do TCU aponta falhas graves nos registros de óbito que alimentam fraudes e prejuízos bilionários aos cofres públicos.

24/07/2025 às 10h36
Por: Redação
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Dinheiro|Foto: Reprodução
Dinheiro|Foto: Reprodução

Por Tribuna10

Redação em 24/07/2025 às 10h35

O Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou nessa quarta-feira (23) os resultados de uma fiscalização que escancarou falhas no controle de óbitos no Brasil. De acordo com o relatório, entre 2016 e 2025, foram pagos R$ 4,4 bilhões em salários e benefícios previdenciários e sociais a pessoas com indícios de falecimento.

A investigação se debruçou sobre o funcionamento do Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (Sirc), base de dados usada pelo governo para confirmar nascimentos, casamentos e óbitos.

De acordo com o TCU, as falhas no sistema permitem que benefícios continuem sendo pagos mesmo após a morte, por falta de comunicação efetiva entre cartórios, o INSS e outros órgãos públicos.

Cerca de 12% dos óbitos sem CPF ocorrem na Paraíba

A auditoria também revelou dados preocupantes sobre a Paraíba. O estado é responsável por 12% dos óbitos registrados sem CPF em todo o país, o que dificulta a identificação das pessoas falecidas e compromete o cruzamento de dados com os sistemas federais.

Além disso, o relatório destaca que, na Paraíba, 17% dos registros de óbito sem CPF utilizam numeração inválida ou fictícia. Esse tipo de irregularidade torna ainda mais difícil a suspensão de pagamentos indevidos.

Pequenos municípios são os mais afetados

De acordo com o TCU, parte do problema ocorre em municípios pequenos e distantes de centros urbanos, onde há relatos de famílias que não chegam a procurar os cartórios para registrar o óbito formalmente — muitas vezes, o sepultamento acontece mesmo sem a emissão de certidão.

Outro entrave está nos próprios cartórios, que em alguns casos deixam de enviar os dados ao Sirc por dificuldades técnicas e operacionais, segundo a Associação dos Registradores das Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil).

Prejuízo continuado

Só em benefícios previdenciários, o TCU identificou R$ 2,47 bilhões pagos a 136,9 mil pessoas já falecidas. Na folha de pagamento da administração pública federal, foram identificados 1.109 servidores, aposentados ou pensionistas recebendo vencimentos mesmo após o óbito, totalizando R$ 217 milhões em pagamentos indevidos.

O Tribunal aponta que o problema não está apenas no passado. A cada mês, a União ainda paga R$ 28,5 milhões a pessoas que já constam como mortas no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), mas que não foram devidamente incluídas no Sirc.

Risco ampliado pela falta de integração

A auditoria destaca que a falta de integração entre as bases de dados do Sirc, do SIM e da Receita Federal contribui para o risco contínuo de fraudes. Sem CPF, o cruzamento de informações se torna limitado e ineficiente.

O TCU recomenda maior fiscalização dos cartórios, atualização das normas de envio dos registros e integração urgente entre os sistemas federais, estaduais e municipais para interromper os pagamentos indevidos.

O ministro Bruno Dantas, ao comentar o relatório de auditoria, afirmou que há "um absoluto descontrole" sobre os bancos de dados de pessoas mortas no Brasil. "O Brasil pagou em 10 anos bilhões para pessoas mortas porque, como nação, fomos incapazes de integrar os nossos sistemas a tempo e a hora", disse. "Vai chegar um momento em que não teremos dinheiro para pagar os vivos", ponderou.

O Sistema Nacional de Informações de Registro Civil (Sirc) foi instituído via decreto de 2014 e posteriormente substituído por decreto 2019. O Sirc tem como um dos objetivos o "apoio e otimização" do planejamento e a gestão de políticas públicas que demandem a utilização de dados.

Redação com Jornal da Paraíba