Por Tribuna10
Redação em 10/04/2025 às 14h29
A Polícia Federal (PF) afirma que já identificou mais de 100 pessoas envolvidas em desvios de contratos milionários bancados em sua maioria com emendas parlamentares que são alvos da operação Overclean.
A informação consta na decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a 3ª fase da operação Overclean.
Parte dos identificados aparecem nas planilhas encontradas pela PF durante busca e apreensão realizada em um avião que viajava de Salvador até Brasília em 3 de dezembro de 2024.
Na aeronave estavam Alex Parente e Lucas Lobão, apontados como lideranças do grupo investigado na Overclean. Como mostrou a coluna, com eles foi apreendido R$ 1,5 milhão e o que a PF classificou como “contabilidade clandestina”
“No que concerne ao risco de os investigados coagirem testemunhas, a autoridade policial aduz que dezenas de codinomes mencionados nas planilhas apreendidas estão sendo gradativamente decifrados e que, no momento, já foram identificadas mais de cem pessoas envolvidas nos crimes em investigação”, diz o ministro em trecho da decisão.
Na decisão, o ministro Kassio Nunes Marques afirma que a viagem de avião, de acordo com relatório da PF, foi organizada após um policial federal que integra o grupo criminoso informar os investigados sobre uma diligência sigilosa na casa de Lucas Lobão.
“Segundo a autoridade policial, por saberem da presença de um policial em diligência velada na casa de Lucas Lobão, o grupo tentou movimentar dinheiro e documentos para um local seguro. Assim, em 3/12/2024, Alex e Lucas Lobão se deslocaram até Brasília em aeronave particular, levando consigo um milhão e meio de reais e documentos com informações sobre propina e controle patrimonial”, diz a decisão.
A estratégia, no entanto, não deu certo uma vez que o avião foi alvo de busca e o material apreendido.
Após encontrar os documentos no avião, a PF passou a analisá-los junto com outras informações colhidas na investigação sobre desvios milionários em contratos com Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), estados e municípios.
O primeiro resultado na análise foi a realização da segunda fase da Overclean, em 23 de dezembro, com a prisão de um policial federal; do vice-prefeito de Lauro de Freitas (BA), Vidigal Cafezeiro Neto; do secretário de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista (BA), Lucas Dias; e de Carlos André Coelho, apontado como operador do grupo.
Os quatro foram soltos dias depois pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Todos aparecem, diz a PF, em anotações e documentos apreendidos no avião que transportava a quantia de R$ 1,5 milhão.
“A análise, ainda que preliminar, do material apreendido quando da ação controlada demonstra que o material apreendido consiste em controle informal de pagamento de propinas”, diz a PF na representação em que pediu as prisões.
A nova fase da operação, realizada na quinta (3/4) é a primeira após o caso subir para o STF devido ao surgimento de indícios da participação do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) no esquema.
Os investigadores se valeram nessa fase de conversas apreendidas nos celulares nas duas primeiras fases, dados enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), depoimentos e interceptações telefônicas.
Entre os achados, conforme mostrou a coluna, foram identificados R$ 80 milhões em transações suspeitas do Rei do Lixo. Segundo informação enviada pelo Coaf à PF, entre as transações suspeitas, está um repasse de R$ 435 mil para uma pessoa com foro por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. A origem da transação nesse caso é a MM Limpeza, empresa de Moura.
Overclean
A operação mira contratos milionários de empresas ligadas aos irmãos Alex e Fabio Parente com órgãos federais, estaduais e municipais. Uma das empresas é a Allpha Pavimentações, que recebeu, via Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), R$ 67 milhões do governo federal, do total de cerca de R$ 150 milhões em contratos assinados entre 2021 e 2024.
Os pagamentos se iniciaram em junho de 2021, no governo de Jair Bolsonaro (PL), e foram efetuados até julho de 2024, já sob Lula (PT).
Dados do Portal da Transparência do governo federal mostram que a verba utilizada nos pagamentos tem origem na rubrica que ficou conhecida como orçamento secreto. Alex Parente, sócio da Allpha e de outras empresas, foi alvo de uma ação controlada da PF em 3 de dezembro de 2024.
A PF abordou o avião em que ele se deslocava, de Salvador para Brasília, com Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-chefe do DNOCS na Bahia. Com eles, foi encontrado o que a PF chamou de “contabilidade clandestina” do grupo.
Em 10 de dezembro, sete dias após a apreensão dos documentos, a PF deflagrou a primeira fase da Overclean.
A investigação teve início para apurar desvios em um contrato do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), mas expandiu seu foco após quebras de sigilo telemático e gravações ambientais que mostraram a atuação de um grupo de empresas em contratos milionários firmados com o governo federal e com administrações estaduais e municipais.
A PF passou a analisar as informações contidas no material do avião e cruzá-las com outras colhidas na investigação sobre desvios milionários em contratos com DNOCS, estados e municípios.
O primeiro resultado desse cruzamento a análise foi a realização da 2ª fase da Overclean, em 23 de dezembro.
Dias depois, em 15 janeiro de 2025, o caso foi enviado para o STF após o surgimento de indícios sobre a participação de Elmar Nascimento.
Redação com Metrópoles