Por Tribuna10
Redação em 15/06/2024 às 09h00
Das 1.232 medidas provisórias (MPs) editadas pelo governo federal nos últimos 23 anos, apenas seis foram devolvidas à Presidência da República pelo Congresso Nacional. Do total de devoluções, quatro ocorreram entre 2019 e 2024.
O caso mais recente ocorreu na última semana, quando o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolveu ao governo um trecho da MP do PIS/Cofins, que compensava a perda de arrecadação causada pela desoneração da folha de pagamentos (leia mais abaixo).
O número de MPs devolvidas consta em um levantamento feito pelo cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), e verificado pelo Senado Federal a pedido da CNN.
A pesquisa leva em conta todas as MPs editadas entre 2001 – ano em que o Congresso promulgou a Emenda Constitucional 32, que ampliou as regras sobre a tramitação de medidas provisórias – e 2024.
Medidas provisórias são normas com forças de lei editadas pela Presidência da República em casos de alta relevância e urgência. As MPs têm efeito imediato, ou seja, começam a valer a partir do momento em que são publicadas.
No entanto, elas precisam de validação do Congresso Nacional para que sejam sancionadas e tenham efeito definitivo. Caso o Congresso não aprove a MP em um prazo de até 120 dias, ela perde a validade.
Os números apontam que a devolução de MPs é um movimento atípico, mas que tem se identificado ao longo dos últimos anos. Na avaliação do cientista político Murilo Medeiros, a ação demonstra a intenção do Congresso Nacional em marcar posição sobre a criação de leis.
“É um recado claro que o Congresso envia de que o Executivo não pode usurpar o seu poder de legislar. É um recado de que o governo precisa melhorar sua interlocução junto ao parlamento, de forma a ter um melhor diálogo antes de enviar uma MP de grande impacto para não sofrer derrotas dentro do plenário”, avalia Medeiros.
Nos últimos meses, parlamentares têm feito diversas queixas sobre invasão de competências do Legislativo e sobre a má articulação política por parte do governo.
No fim de 2023, por exemplo, o presidente Lula chegou a editar uma MP determinando a reoneração gradual da folha de pagamentos para 17 setores econômicos, indo na contramão de uma decisão que o Congresso havia tomado sobre o assunto.
A edição da medida gerou uma crise. Deputados e senadores pressionaram o governo sob a justificativa de que uma MP não poderia derrubar uma medida promulgada pelo Congresso Nacional. A pressão fez com que Lula revogasse trechos da MP.
“Isso reflete um Congresso Nacional mais independente e mais proativo na agenda legislativa”, avalia Medeiros.
A discussão sobre devolução de medidas provisórias se agravou na última semana após diferentes bancadas criticarem a MP do PIS/Cofins e pedirem a devolução do texto. Alguns líderes ainda defendem que o tema seja debatido via projeto de lei, para que haja maior envolvimento do Congresso.
Apesar de negar a existência de uma crise com o Executivo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu parcialmente a matéria. A MP propunha que créditos tributários e de contribuição da seguridade social fossem utilizados para tanto, reduzindo seu uso, por parte de setores econômicos, para pagamentos que não o do PIS e do Cofins.
Ao devolver a MP, Pacheco argumentou que, de acordo com a Constituição, uma regra sobre contribuições só poderia valer 90 dias após a publicação da lei que o prevê, o que não estaria incluído na MP apresentada pelo governo.
Na manhã de quinta-feira (13), Pacheco se reuniu com líderes partidários para discutir alternativas para substituir a MP. Segundo o senador, os parlamentares listaram seis propostas que serão apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).