Polícia NO CEARÁ
No Ceará, policiais utilizavam quartel para negociar drogas e tentavam interferir em prisões em delegacia e fórum
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17/07/2023 08h45 Atualizada há 1 ano
Por: Redação
Legenda: Promotores de Justiça e policiais cumpriram 5 mandados de prisão preventiva e 24 mandados de busca e apreensão, nas operações Gênesis IX e X Foto: Divulgação/ MPCE

Por tribuna10
Redação 17/07/23   às 08h45

O Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), esmiuçou um esquema criminoso formado por policiais militares e traficantes, que praticou crimes como extorsão, tráfico de drogas, tráfico de armas, receptação, corrupção e organização criminosa, em Fortaleza.

A teia criminosa, composta por 31 acusados pelo MPCE (sendo 17 policiais militares e ex-PMs e 14 traficantes), foi alvo das operações Gênesis IX e X, deflagradas no dia 2 de fevereiro deste ano. Na ocasião, 5 policiais foram presos e 24 mandados de busca e apreensão cumpridos. A denúncia do Ministério Público foi recebida pela Justiça Estadual, e os acusados viraram réus.

Conforme a denúncia do Gaeco, os agentes de segurança chegaram a combinar a entrega de um dinheiro, oriundo do tráfico de drogas, em um quartel da Polícia Militar do Ceará (PMCE); e tentavam interferir em prisões de comparsas dos seus aliados, durante o flagrante feito por outra composição militar, na delegacia da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) e até quando o caso já estava no Fórum Clóvis Beviláqua.

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    práticas criminosas cometidas pela quadrilha, descritas na denúncia, foram descobertas através de interceptações telefônicas e extração de dados dos aparelhos celulares dos investigados.

Entre os crimes, uma negociação de drogas que terminou em um quartel da Polícia Militar, na Capital. O falecido sargento PM Antônio Iran Ferreira de Lima (morto em um acidente automobilístico, em 22 de setembro de 2018) teria procurado o sargento Jeovane Moreira Araújo - apontado como líder da organização criminosa - para repassar uma droga, pelo valor de R$ 1.550, no dia 14 de abril de 2017, segundo as investigações do Gaeco.

Jeovane afirma que vai pagar R$ 500 antecipado, e Iran pede para ele deixar o dinheiro no quartel, com outro policial militar. "Aqui, Excelência, chama-se a atenção para a ousadia dos policiais em realizarem o recebimento do dinheiro nas próprias dependências do quartel da Polícia Militar. No áudio, resta claro que, além de Jeovane e Iran, mais dois outros policiais também participaram do crime, sendo um deles referido como 'recruta', que é quem, por comum acordo, vai ganhar menos com a divisão", descrevem os promotores de Justiça.

Interferências em prisões
Os policiais militares da organização criminosa também interferiam em prisões de comparsas dos seus aliados - traficantes médios da periferia de Fortaleza, principalmente da região do Bom Jardim. Além de não fiscalizarem as atividades ilícitas operadas pelos mesmos.

As investigações do Gaeco apontam que o sargento PM Jeovane interviu em uma prisão realizada pela Polícia Militar, liberou um suspeito que havia sido detido e ainda recuperou um "saquinho" de droga que ele tinha se livrado, no dia 20 de outubro de 2016. O suspeito integrava a quadrilha liderada por José Galdino da Silva, o 'Zé Alves' - morto no dia 3 de dezembro de 2018.

    No dia seguinte àquela soltura, a esposa de 'Zé Alves', Mara Cristina, comenta com Jeovane que um familiar não foi solto em uma audiência de custódia, na Justiça Estadual. O PM orienta a mulher a tentar transferir o processo criminal para uma vara específica do Fórum Clóvis Beviláqua, "que lá tem um contato que desenrola um alvará de soltura na próxima audiência, mediante o pagamento de propina", de acordo com a denúncia do MPCE.

Em outra tratativa, no dia 1º de novembro de 2016, o sargento Jeovane Moreira ofereceu R$ 4 mil para policiais militares que prenderam dois suspeitos, ligados ao traficante João Paulo de Oliveira Araújo, o 'Flavinho do Fluminense' - morto em 24 de junho de 2017. Mas a ocorrência já havia sido registrada nos sistemas da Polícia.

Já no dia 17 de abril de 2017, Jeovane Moreira voltou a ligar para a acusada Mara Cristina para dar orientações de como ela devia agir para tirar um homem não identificado do cárcere, em uma delegacia da Polícia Civil, para o suspeito "não entregar todo mundo". A denúncia do MPCE não esclarece se os suspeitos foram liberados na delegacia ou no Fórum, na outra ocorrência.

Mandados judiciais contra policiais militares foram cumpridos com apoio da Assessoria de Inteligência da Policial Militar (Asint) e do Comando Geral da Polícia Militar do Ceará (PMCE)
 
Casos de extorsão
Outra prática recorrente da organização criminosa era extorquir pequenos e médios traficantes, rivais dos seus comparsas - com uso de informações privilegiadas da Polícia Militar.

Em um dos casos identificados pelo Gaeco, os PMs Jeovane Moreira, Oziel Pontes da Silva e Paulo Rogério Bezerra do Nascimento são acusados de extorquir um homem com mandado de prisão em aberto, no bairro Serrinha, no dia 22 de agosto de 2016. Para ele não ser preso, teve que pagar R$ 3 mil e entregar uma arma de fogo e três veículos para os policiais.

Em outro episódio, no dia 1º de novembro daquele ano, Jeovane e os também militares Francisco Clébio do Nascimento Alves, Francimar Barbosa Lima e José Alessandro dos Santos teriam exigido de um suspeito R$ 5 mil, além de terem subtraído uma pequena quantidade de droga.
O que dizem as defesas dos réus

A defesa dos PMs Jeovane Moreira Araújo, Francisco Clébio do Nascimento Alves e Paulo Rogério Bezerra do Nascimento, representada pela Defensoria Pública Geral do Ceará, afirmou, no processo criminal, que "durante o transcorrer da lide penal restará provado que os fatos não se passaram conforme narra a denúncia".

A defesa dos PMs José Alessandro dos Santos e Oziel Pontes da Silva corrobora "que os fatos não se deram como narrados nos autos e reserva-se no direito de se manifestar após a fase instrutória" do processo. As informações são do Diário do Nordeste.

Já a defesa do PM Francimar Barbosa Lima pontua que "o defendente nega, veementemente, que tenha praticado os crimes que lhe foram imputados na denúncia do Ministério público". "Em que pese os fatos contidos no bojo da peça delatória, o acusado se declara inocente, o que será provado ao final do processo", completa.

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