Brasil DEU NO GLOBO
Governo Bolsonaro deu R$ 872 milhões a ONG evangélica para cuidar de indígenas
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25/01/2023 08h04 Atualizada há 2 anos
Por: Redação
Quem ficou com a maior “mordida” dessa dinheirama foi uma ONG evangélica chamada Missão Caiuá, com sede em no Mato Grosso

Por Tribuna10 @tribuna10_oficial
Redação 25 de janeiro de 2023  às 08h05

Uma reportagem publicada nesta terça-feira (24) pelo diário carioca O Globo, de autoria do jornalista Alvaro Gribel, revelou dados estarrecedores sobre o descaso generalizado e aparentes ilegalidades e irregularidades gritantes cometidas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) no que diz respeito às políticas para proteção e assistência dos povos indígenas brasileiros.

O mundo está chocado desde o último fim de semana, quando após uma visita de Lula (PT) à Terra Indígena Yanomami, em Roraima, mostrou ao planeta o que o presidente classificou como “genocídio”, por meio de imagens chocantes de crianças, mulheres e idosos com aspecto cadavérico, completamente desnutridos, sendo que muitos não resistiram ao resgate e morreram horas depois.

Segundo o texto de O Globo, nos quatro anos da gestão de Bolsonaro um orçamento de R$ 6,13 bilhões foi destinado ao Programa de Proteção e Recuperação da Saúde Indígena, sendo que 88% dele foi executado. Ou seja, efetivamente foram gastos R$ 5,44 bilhões desse montante astronômico, mas se engana quem acha que isso de alguma forma foi revertido em melhorias para os povos originários.

Quem ficou com a maior “mordida” dessa dinheirama foi uma ONG evangélica chamada Missão Caiuá, com sede em no Mato Grosso, cujo lema é “A serviço do índio para a glória de Deus”. Ela recebeu R$ 872 milhões, sendo que R$ 52 milhões deveriam ser destinados ao povo Yanomami apenas no ano de 2022, só que quase toda a verba, conforme denunciam lideranças indígenas, teria sido destinada a “burocracias”, como contratar aviões e helicópteros para o deslocamento de agentes dessa ONG e de médicos e enfermeiros. Detalhe, a fortuna gasta nesses aluguéis de aeronaves foi gasta com frotas de propriedade de garimpeiros.

Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami, disse ao autor da reportagem que praticamente nenhum médico ou profissional de saúde entrou nas terras indígenas nos últimos quatro anos, o que faz constatar que o montante milionário de fato foi gasto com “serviços”, como assinatura de contratos e acordos com entidades de profissionais de saúde, assim como com o aluguel de aviões e helicópteros, sem que, no entanto, nada tenha sido realizado efetivamente para os indígenas que esperavam pelos atendimentos.

“O que houve foi descaso e crime. O dinheiro foi mal gasto e mal planejado. Quase tudo foi gasto com ‘aéreo’. Avião e helicóptero para levar profissionais dentro do território, mas apenas na hora da emergência, quando muitas vezes já é tarde demais. Como a ambulância do SAMU nas cidades. Não sobra nada para comprar medicamentos. O que a gente precisa é de prevenção, um plano de ação e compromisso com as vidas”, disse o líder Hekurari Yanomami, da Urihi.

O líder explicou ainda que com o fomento e o incentivo de Jair Bolsonaro (PL) à invasão das terras por garimpeiros, houve uma explosão de áreas que passaram a ser ocupadas e exploradas, o que gerou uma forte crise de violência, ameaças, desmatamento e muitos outros desmandos, como as ordens expressas dos donos do garimpo proibindo a entrada de médicos, antropólogos e outros agentes públicos voltados a dar atendimento aos habitantes daquelas áreas remotas. Vale lembrar que muitas das crianças mortas na Terra Indígena Yanomami foram vítimas da água contaminada dos rios pelo mercúrio dos garimpeiros.

“Os garimpeiros ficam intimidando, ameaçando profissionais para pegar remédios. Por causa desses problemas foram fechadas seis unidades básicas de saúde. Muitos yanomamis ficaram sem atendimento e morreram sozinhos sem nenhuma ajuda. Com os yanomamis também faltou gestão. Se fosse um trabalho dentro da comunidade, de atendimento, com médicos, não tinha gasto isso tudo”, disse ainda Hekurari Yanomami.